A proposta fenomenológica da
Gestalt-Terapia em retomar ao mundo da experiência sensível, fica evidenciada
na frase de Perls “perca a razão, recupere os sentidos”. Viver apenas na razão deixou o mundo doente,
perdeu o sentido. E o excesso de estímulo faz com que o indivíduo se feche,
como um ajustamento de proteção, para não sentir; mas não sentir, por si só é
angustiante, Mônica Alvim (2015), em sua aula de especialização apresenta que
na psicoterapia a experimentação pode dar sentido para a experiência. A
experimentação possibilita acordar o corpo para a sensibilidade, e um corpo
desperto potencializa a capacidade criadora do indivíduo.
A experimentação em
intervenção terapêutica é considerada como uma proposição, uma vez que visa
provocar algo que só terá vida a partir da ação do cliente e não do
terapeuta. É uma proposta que brota da
situação e é apresentada, sem impor condições. É, portanto, uma improvisação
(sem um a priore), que emerge da
necessidade no campo, neste caso, do cliente no seting terapêutico. É uma ação vivida, experimentada:
experiment+AÇÃO. Envolve o corpo, o tempo e o espaço, tem forma e é
significada. Na prática, pode ser uma pergunta, um movimento corporal ou
recurso artístico de domínio do terapeuta (aqui propositor).
O “como” se dá a interação
entre sujeito/organismo e um determinado campo/situação, pela experiência
vivenciada e o que produziu de sentido, interferem na “formação da forma” do vir-a-ser
do sujeito. Sua percepção corpórea e
significação dos sentidos, bem como os ajustamentos criativos disponibilizados
envolvem o “como” desta construção. Neste contexto, implica o despertar da
sensibilidade do corpo para que possa ressignificar sua percepção de mundo.
Fazendo um paralelo com a arte
da pintura em tela, que compreende vários elementos em sua formação, também o
sujeito se compõe das diversas interações que estabelece com o meio. As
pinceladas num quadro em composição, mesclam-se com as anteriores criando nova
cor e forma; assim o sujeito em sua composição, frente a novas situações
vivenciadas em um campo, com a sua singularidade e historicidade acessará as
nuances de suas percepções, compreendendo-as com significado próprio, sua forma.
A experimentação terapêutica
com pinceladas inovadoras pode proporcionar ao sujeito novas marcas em sua
forma ressignificando o que estava cristalizado. Característica do ser humano,
um ser em constante transformação, que interfere e sofre influência do meio em
que está inserido.
Sendo assim, a experimentação
requer a existência de um campo para que possa acontecer; para fazer sentido
precisa ser sentida pelo cliente de forma significativa e inovadora,
proporcionando um novo olhar sobre o todo. De tal modo, que os ajustamentos
criativos disfuncionais possam ser quebrados, ou seja, provoque um
desajustamento criativo, como destaca Monica.
Neste contexto, a
experimentação tem como tarefa provocar um Desajustamento Criativo, em outras
palavras, desnaturalizar a percepção, pois o adoecimento começa na fixação da
forma, que vira fôrma, robotizado. Almeja, portanto, sair da racionalização do
conhecido para um campo desconhecido, ainda bruto nas emoções e sentidos, tal
qual a passagem da explicação (conhecido) para a experiência (novo),
possibilitando ressignificar a forma. Forma aqui, não como algo rígido e
racionalizado, mas que envolve o sujeito em seu inteiro em contato fluido com o
meio. Mônica destaca que é preciso “viver” a experiência, a experiência que destrói,
que quebra, que desnaturaliza. E quebrar esta naturalização é o trabalho do
artista.
Ser no mundo, é estar, é
fluir. É resgatar a capacidade de criar. É correr o risco do absurdo. A
verdadeira criação é uma resposta para o mundo, numa troca entre organismo e
meio, daquilo que emerge em um campo. Assim, a experimentação em Gestalt
terapia é constituída por um organismo/sujeito e ambiente a partir de um campo
(situação que emerge). Sendo uma necessidade que emerge sem planejamento a priore, ela é vivenciada no agora. No
contexto psicoterápico, foca no que acontece no momento (no aqui e agora do seting), trabalha com uma ação que
possibilite produzir um conhecimento do cliente acerca de si próprio, tal como
o terapeuta descrever os movimentos corpóreos, facilitando uma awareness. A
partir da situação concreta, promove o dar-se conta de algo até então
desconhecido.
Acredito que no encontro entre
terapeuta e cliente, a experimentação tem um aporte seguro para acontecer. O
terapeuta conhecendo os ajustamentos do cliente, pode proporcionar situações
para que este experimente vivenciar o sentimento no momento presente,
valorizando o aqui-agora. Como instrumento terapêutico, percebo que a experimentação
já vem acontecendo em meus atendimentos, mas compreendo que posso ampliar estas
possibilidades.
Referencia
Material de power point
disponibilizado em curso, e anotações feitas
Por Mariane Manske Oechsler em out/ 2015